Lula confirma reunião com Trump e promete conversa “olho no olho” sobre tarifas e sanções

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (24), em coletiva na Indonésia, que a reunião com Donald Trump está praticamente certa. O encontro deve acontecer no domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia e promete ser o primeiro grande teste da relação entre os dois governos desde a crise do “tarifaço” de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.

“Não há assunto proibido. Vamos conversar sobre tudo”, disse Lula, que chegou à Malásia para participar da Cúpula da ASEAN, encontro que reúne líderes asiáticos para discutir cooperação e crescimento econômico.

Embora ainda falte confirmação oficial de Washington e Brasília, o clima nos bastidores é de otimismo. Segundo fontes do Itamaraty, a agenda de domingo foi reservada para reuniões bilaterais, e a de Trump é tratada como prioridade.

O que Lula quer negociar com Trump

O presidente brasileiro pretende discutir comércio bilateral, tarifas impostas pelos EUA e as sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Tenho todo interesse nessa reunião. Quero mostrar, com números, que houve equívoco nas taxações”, declarou Lula.

Além dos temas econômicos, o presidente também deve abordar os ataques americanos a embarcações na costa da Venezuela, além de questões ambientais, como as expectativas para a COP 30 e a polêmica perfuração da Petrobras na Foz do Amazonas.

Para Lula, será uma conversa franca: “Podemos dizer o que quisermos — e ouvir o que não quisermos. Estou convencido de que será bom para o Brasil e para os Estados Unidos.”

Relação em reconstrução

Desde setembro, Lula e Trump vêm ensaiando uma aproximação política. Primeiro, trocaram cumprimentos rápidos na Assembleia da ONU. Depois, tiveram uma conversa de cerca de 30 minutos por telefone, mediada pelas diplomacias dos dois países.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também se reuniu recentemente com o secretário de Estado americano, Marco Rubio — mais um sinal de degelo nas relações.

Ao ser questionado pelo correspondente internacional da TV Globo, Felippe Coaglio, Lula destacou que a reunião é aguardada há tempos: “Sempre disse que, quando Trump quisesse conversar, o Brasil estava à disposição.”

O petista reforçou o valor do contato direto: “A relação humana é química. Fazer reunião digital não é a mesma coisa. É olhar no olho, pegar na mão, abraçar.”

De olho no cenário global

A viagem pela Ásia é parte da estratégia de Lula para recolocar o Brasil no centro das discussões internacionais. Antes da Malásia, o presidente passou pela Indonésia, onde foi recebido por Prabowo Subianto, e deve seguir depois para encontros com líderes de outros países da ASEAN — bloco que inclui Filipinas, Tailândia, Singapura e Vietnã.

Na quinta (23), Lula voltou a defender a criação de uma moeda alternativa ao dólar para transações comerciais entre países do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A proposta, que Trump vê com ceticismo, deve surgir novamente no diálogo de domingo — e pode se tornar um dos pontos mais delicados da conversa entre os dois presidentes.