Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu aos 88 anos na madrugada desta segunda-feira (21/4), conforme confirmado pelo Vaticano. O pontífice, o primeiro latino-americano a ocupar o cargo, morreu às 2h35, horário de Brasília, e 7h35 no horário local. Seu pontificado de 12 anos foi caracterizado por sua popularidade entre os fiéis e pela implementação de reformas, que enfrentaram resistência dentro do catolicismo, embora não alterassem os pilares doutrinários da Igreja.

A saúde do pontífice já vinha inspirando cuidados há anos. Em fevereiro de 2025, Francisco teve um agravamento de uma bronquite e chegou a interromper discursos e compromissos. Desde 2022, usava cadeira de rodas devido a dores no joelho. Ele também enfrentou problemas respiratórios, uma inflamação no cólon e passou por cirurgia abdominal em 2023.
O corpo será velado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e o funeral ocorrerá com missa de corpo presente na Praça de São Pedro, conforme prevê a tradição. Ainda em vida, Francisco manifestou desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, rompendo com o costume de sepultamento na cripta de São Pedro.
Pontificado marcado por reformas e inclusão
Eleito em 13 de março de 2013, Bergoglio rompeu protocolos desde o início, surgindo na sacada da Basílica de São Pedro sem os tradicionais ornamentos papais. Inspirado por São Francisco de Assis, adotou um estilo simples e próximo dos fiéis, frequentemente chamando a atenção para a necessidade de justiça social, acolhimento de migrantes, proteção ambiental e combate à pobreza.
Ao longo dos 12 anos de pontificado, tentou reformar a Cúria Romana e as finanças da Santa Sé. Também se posicionou contra a “mentalidade machista” dentro da Igreja e nomeou a freira Raffaella Petrini para liderar o Governo do Estado da Cidade do Vaticano, em 2024.
Mesmo com saúde frágil, manteve agenda intensa de viagens, incluindo em 2023 uma jornada de 12 dias à Indonésia, Timor Leste, Papua-Nova Guiné e Singapura. A imagem do papa rezando sozinho sob chuva na Praça de São Pedro, em 2020, tornou-se símbolo da pandemia e de seu apelo por empatia global.
O estilo pastoral e reformista de Francisco enfrentou resistência entre setores mais conservadores da Igreja. Seu modo direto e, por vezes, centralizador de tomar decisões gerou críticas, especialmente entre membros da Cúria Romana. Ainda assim, seguiu determinado em impulsionar um modelo de Igreja mais inclusivo e menos burocrático.
Durante seu pontificado, o papa também se destacou pela aproximação com outras religiões. Em 2016, realizou encontro inédito com o patriarca ortodoxo russo Kirill. Avanços, no entanto, foram interrompidos após o apoio da Igreja Ortodoxa à invasão da Ucrânia.
No combate a abusos sexuais cometidos por membros do clero, Francisco aboliu o sigilo pontifício que dificultava investigações internas, medida considerada significativa, ainda que insuficiente por grupos de vítimas.
Da Argentina para o mundo
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio era filho de imigrantes italianos e formado em química antes de ingressar na Companhia de Jesus, em 1958. Tornou-se sacerdote em 1969 e, em 1998, arcebispo de Buenos Aires. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II.
Ao ser escolhido como o 266º papa da história da Igreja Católica, em 2013, aos 76 anos, trouxe consigo a experiência pastoral e uma visão comprometida com as “periferias” do mundo, termo que usava para se referir aos pobres, excluídos e regiões esquecidas.
Com a morte de Francisco, inicia-se o período de Sé Vacante, durante o qual será convocado o conclave de cardeais para a escolha de um novo pontífice. Até lá, o camerlengo da Igreja Católica, cardeal Kevin Joseph Farrell, assume a administração do Vaticano.
Em nota, Farrell lamentou a perda: “Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal.”
Com a morte de Jorge Mario Bergoglio, chega ao fim um pontificado marcado por simplicidade, reformas e pelo esforço de reaproximação da Igreja com os anseios do mundo contemporâneo.