A diretoria da Anvisa (Agência Nacional Nacional de Vigilância Sanitária) deve decidir na próxima semana se libera o uso da Coronavac ao público de 3 a 17 anos.
Técnicos da agência trabalham para entregar pareceres sobre a vacina no começo da semana. Em cenário otimista, a ideia é reunir a cúpula do órgão para votar o pedido do Instituto Butantan na próxima quarta-feira (19).
Integrantes da Anvisa afirmam que a tendência é liberar a aplicação da Coronavac em crianças e adolescentes, mas colocar algumas condições. Entre elas, que o laboratório paulista se comprometa a gerar dados sobre o uso das doses no Brasil, além de apresentar o desfecho de estudo global que está sendo conduzido na China, África do Sul, Chile, Malásia e Filipinas.
Os pareceres das áreas técnicas devem apontar que a vacina demonstra dados sólidos de segurança. Além disso, destacar que o imunizante é largamente aplicado nos mais jovens em outros países, como o Chile. O país andino já imunizou 1,4 milhão de pessoas entre 3 e 17 anos.
Após se reunir com o laboratório ligado ao governo paulista, a Anvisa informou na quinta-feira (13) que a análise entrou na reta final.
Participaram do mesmo encontro para tratar de dados da vacina pesquisadores chilenos, técnicos do laboratório Sinovac e representantes da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), da SBI (Sociedade Brasileira de Imunologia) e da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
Os representantes das sociedades médicas também vão entregar manifestação à agência sobre o uso da vacina.
Como a Coronavac não tem registro definitivo, a decisão sobre ampliar o público-alvo será tomada pela diretoria colegiada, formada por cinco membros.
Apenas a vacina da Pfizer contra a Covid pode ser aplicada no Brasil em menores de idade, a partir de 5 anos. Neste caso, o imunizante tem registro definitivo. Por isso, a decisão de ampliar o alcance do imunizante é tomada por técnicos e publicada no Diário Oficial.
A campanha de vacinação das crianças foi aberta nesta sexta-feira (14), com a dose da Pfizer. O primeiro imunizado foi Davi Seremramiwe Xavante, um menino indígena de 8 anos.
Em agosto, a diretoria da Anvisa negou pedido de uso da Coronavac no grupo de 3 a 17 anos sob argumento de falta de dados. Integrantes da agência afirmam que o processo, agora, está mais sólido.
O Ministério da Saúde avalia usar a Coronavac em crianças, caso haja aprovação da Anvisa. Como a vacina é do mesmo modelo aplicado em adultos, estados já se planejam para destinar doses estocadas ao público mais jovem.
A vantagem da Coronavac é a disponibilidade de doses, devido ao fato de que o imunizante parou de ser usado pelo governo federal.
A vacinação de crianças e adolescentes é tema sensível no governo Jair Bolsonaro (PL), pois o mandatário distorce dados e desestimula a imunização dos mais jovens.
O presidente ainda é vetor de desinformação sobre a Coronavac, vacina impulsionada no Brasil pelo governador paulista João Doria (PSDB), inimigo político e potencial adversário do mandatário na disputa ao Planalto neste ano.
Apesar da resistência do presidente, o ministério espera receber 30 milhões de doses pediátricas da Pfizer até o fim de março.
O governo de São Paulo estima ter capacidade de vacinar todas as crianças de 3 a 11 anos no estado contra a Covid-19 em cerca de dez dias.
Bolsonaro chegou a ameaçar expor nomes de servidores da Anvisa que aprovaram o uso de vacinas da Pfizer em crianças. Em resposta, o presidente da agência, Barra Torres, disse ao jornal Folha de S.Paulo que as falas do chefe do Executivo estimulavam crimes de ameaça contra o órgão regulador.
Em nota divulgada no último dia 8, Barra Torres ainda rebateu insinuações de supostos interesses escusos da Anvisa na vacinação de crianças, e cobrou retratação do presidente.
Fonte: Folhapress